'Brasil será nosso próximo mercado', diz CEO que implantou chips no corpo de funcionários nos EUA
Uma empresa de tecnologia de Wisconsin, nos Estados Unidos, causou furor ao anunciar que implantaria chips no corpo de seus funcionários para substituir crachás, chaves e a necessidade de senhas em computadores e equipamentos eletrônicos.
Um
mês após o anúncio, passado o frenesi inicial da imprensa americana, 61
dos 80 funcionários da Three Square Market já convivem com esse corpo
estranho, do tamanho de um grão de arroz, aplicado com uma seringa sob a
pele entre os dedos polegar e indicador.
O
chip funciona como um código de barras e permite que leitores digitais
identifiquem o nome, a área de trabalho e até mesmo o cartão de crédito
dos funcionários que decidem comprar algo para lanchar na cantina da
empresa.
"A
adesão foi totalmente voluntária. Eu mesmo me surpreendi com o
interesse. A moral da história é que somos uma empresa de tecnologia e
os funcionários naturalmente se interessam pelo que é novo", disse à BBC
Brasil Todd Westby, CEO da Three Square Market, que era conhecida até
hoje como produtora de máquinas de autoatendimento, como aquelas que
vendem latinhas de Coca-Cola no metrô ou substituem o trabalho dos
operadores de caixas em supermercados.
Tratada
por Westby como o início de uma "revolução como foi a do iPhone", a
tecnologia também desperta preocupações e críticas, já que poderia ser
utilizada, teoricamente, para monitorar momentos de descanso de
empregados ou os trajetos feitos por seus usuários, incluindo locais
mais frequentados e hábitos de consumo.
Para
que esse tipo de monitoramento fosse possível, entretanto, o chip
subcutâneo precisaria ter um dispositivo de GPS - algo que não está
presente na versão instalada nos funcionários da empresa de tecnologia.
Pelo
menos por enquanto. "Nós já desenvolvemos toda a tecnologia de um GPS
alimentado pela energia do corpo. Agora estamos trabalhando para reduzir
o tamanho do dispositivo até que seja possível implantá-lo", diz Westby
à BBC Brasil.
Tornozeleiras
O
empreendedor diz que, num futuro próximo, a tecnologia poderá ser usada
para substituir documentos, fichas médicas e até tornozeleiras
eletrônicas - bastante conhecidas no Brasil graças a sentenças recentes
da operação Lava Jato.
"As
sociedades estão cada vez mais substituindo o dinheiro vivo por outras
formas de pagamento. O papel também está sumindo. O chip poderá
substituir passaportes e você não vai mais correr o risco de ter o seu
roubado ou de perdê-lo. Uma pessoa com Alzheimer ou doenças de memória
poderá ter toda a lista de remédios que consome detalhada no chip quando
for a uma emergência ou visitar um novo médico", diz.
"As
tornozeleiras eletrônicas existem para monitorar pessoas condenadas,
mas são caras e têm logística difícil. O chip resolveria isso",
continua.
Neste
ano, pelo menos cinco estados brasileiros - Goiás, Espírito Santo,
Piauí, Alagoas e Rio de Janeiro - registraram falta de tornozeleiras por
excessod e demanda. Em julho deste ano, o ex-assessor do presidente
Michel Temer Rodrigo Rocha Loures (PMDB-PR), flagrado com uma mala com
R$ 500 mil, foi alvo de investigação por supostamente ter "furado a fila
da tornozeleira".
O
ex-ministro Geddel Vieira Lima, que teve prisão preventiva decretada
por suposto envolvimento em corrupção, teve sua liberação para o regime
semi-aberto atrasada também pela escassez do equipamento.
A
empresa de Wetsby, um economista que migrou para a industria da
tecnologia em 1997, é a primeira de que se tem conhecimento nos EUA a
implantar chips em funcionários.
Agora, com seis patentes diferentes em processo de registro, ele quer vender a tecnologia para diferentes setores.
Brasil
"Dois hospitais brasileiros já nos procuraram querendo experimentar a tecnologia", diz o executivo à BBC Brasil.
Wetsby se limita a dizer que um deles está em São Paulo, mas não revela nomes "porque as negociações ainda estão em andamento".
Segundo
Westby, médicos brasileiros estariam interessados em realizar testes
com o chip em pacientes com doenças degenerativas. O chip reuniria
informações sobre o histórico médico dos pacientes, incluindo registros
de medicamentos e tratamentos realizados nos últimos anos e poderia
garantir um acesso fácil a estas informações em caso de confusão mental
ou se o paciente estiver desacordado.
"O
Brasil será nosso próximo mercado. Sei que vocês também têm uma demanda
muito grande no sistema penal", diz o CEO. "Também estamos conversando
com Espanha, Canadá, México e outros lugares."
A
reportagem questiona se a implantação dos chips nos funcionários não
foi uma estratégia de marketing, já que garantiu visibilidade à empresa e
abriu as portas para interessados na tecnologia. Westby jura que não.
"Zero
marketing, você acredite ou não. Nós somos uma empresa de tecnologia.
Achamos que seria divertido fazer esse teste, ficamos empolgados e os
funcionários também. Mandamos, claro uma divulgação para a imprensa como
fazemos sempre, mas não sabiamos que causaria uma comoção tão grande."
O
lançamento da tecnologia, em 1º de agosto, reuniu dezenas de equipes de
TV na pequena cidade de River Falls, de 15 mil habitantes.
Entre os entrevistados estava uma funcionária que não aceitou receber o chip.
"Eu
ainda não vi pesquisas sobre os efeitos a longo prazo na saúde. Isso me
deixa um pouco preocupada. Ainda é um objeto estranho sendo colocado em
seu corpo", disse a executiva de marketing Katie Langer em entrevista à
NBC News.
Futuro
O
chip usado pela empresa já permite que funcionários se identifiquem em
catracas e roletas, utilizem computadores e máquinas de fotocópias e
paguem por produtos consumidos na cantina. O chip funciona a uma
distância máxima de 15 centímetros dos leitores.
Segundo
o criador, ele pode ser removido em poucos minutos com ajuda de um
médico ou enfermeiro - da mesma forma com que foram inseridos.
As
principais preocupações dos usuários se referem a privacidade - quem
garante que o chip não pode ser hackeado ou os dados que coleta podem
ser utilizados por patrões sem o consentimento dos empregados?
"A tecnologia que estamos usando é passiva. Não tem GPS, portanto o hackeamento é impossível", responde o empresário.
A
reportagem lembra que ele havia dito há pouco que está desenvolvendo
uma versão com GPS. "Sim, mas até que tenhamos a tecnologia 100% segura,
ela não será lançada", responde.
Os
usos do chip subcutâneo, segundo seu criador, poderiam incluir
monitoramento de crianças em regiões com alta incidência de tráfico
infantil ou de animais domésticos, cuja fugas poderiam ser evitadas ou
controladas.
Em
2015, um boato de que a então presidente Dilma Rousseff implantaria
chips nos brasileiros para substituir documentos como RG e CPF foi o
assunto mais buscado no país pelo Google durante semanas.
A
informação era falsa. Dilma não havia sancionado ou discutido qualquer
lei sobre microchips - mas discutia a criação de um novo cartão chamado
Registro de Identidade Civil, que possuiria um chip como os presentes em
bilhetes de ônibus ou cartões de crédito.
Para Wetsby, a comoção ocorrida à época no Brasil deixará de ocorrer em alguns anos.
"As
pessoas se preocupavam com dados pessoais na internet e hoje fazem
questão de compartilhá-los para receberem indicações de sites e produtos
que têm a ver com seu perfil. Todo mundo ficou chocado com o GPS do
iPhone e hoje gosta quando o telefone recomenda trajetos mais
inteligentes. No futuro, com os chips, será a mesma coisa: os que hoje
se preocupam vão querer tê-lo para conseguir acesso rápido a produtos
customizados e ter mais segurança do que com papéis ou documentos que
podem perder."
CHIPS NO BRASIL O PRÓXIMO PAÍS DEPOIS DO EUA
Reviewed by Glória Ebenézer
on
setembro 04, 2017
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